terça-feira, 17 de agosto de 2010

As crianças e a criminalidade

O leitor que me acompanha desde o início do Blog pode ter percebido que em alguns textos eu demonstro um certo otimismo com relação ao futuro, dando uma ideia de que as pessoas devem (e devem mesmo) acreditar no futuro, nos jovens, em mudanças, etc. Entretanto, existem situações que não deixam o meu otimismo ir tão longe e uma desta é o tema que irei abordar hoje.

Uma das maiores dificuldades de uma criança que nasce nas favelas progredir na vida, tendo acesso aos estudos e ao mercado de trabalho futuramente, é o meio em que ela nasceu. A discriminação com aqueles que vivem nesta localidade é gritante. Mas se fosse apenas a discriminação, de repente seria algo passível de solução. Ocorre que um menino que nasce em uma favela hoje, está sujeito a ingressar no mundo crime, e o pior, nem sempre por vontade própria, mas talvez por uma obrigação de um criminoso ou de um traficante, eis que entra em jogo o seu iminente risco de vida.

Diante disso, as brincadeiras dos meninos que moram nas favelas passam a ser relacionadas ao crime, pelo fato de não conhecerem outra realidade. Meninos brincando de traficante, ladrão e assaltante. Os pais, se é que existem, não encaminham os filhos às escolas e eles ficam soltos pelas favelas, suscetíveis de terem contato próximo com as drogas e com a criminalidade. Acabam se tornando as peças fundamentais dos criminosos e tratados por eles como seus sucessores.

Outra triste realidade diz respeito a falta de um pai ou de uma mãe para instruir os caminhos dos filhos, que já nascem em situações difíceis. O filme Última Parada 174 e o documentário Ônibus 174, relatam a vida de Sandro, um menino que viu sua mãe sendo morta após um assalto. Pelo fato de não conhecer seu pai, teve de ir morar com a tia. Todavia, a tia trabalhava e não tinha tempo para dar carinho e cuidado ao menino, que fugiu, indo morar na rua. Para não contar toda história, resumo no fato de que morando na rua ele passou a se drogar e mesmo sem ter traços de um bandido, entrou no mundo da criminalidade. Sandro esteve presente na Chacina da Candelária, no qual foi tema do último texto do Rodrigo. Todos estes fatos culminaram no assalto a um ônibus que foi mundialmente conhecido e que todos conhecem o fim: morte de Sandro e de uma refém dele.

Diante do exposto, resta claro que a falta de opção para os jovens, para as crianças, acarretam no ingresso no mundo do crime e depois que entram, dificilmente saem. Assim, o crime vai se propagando. Fica a pergunta: se Sandro tivesse oportunidades, será que tudo isto teria acontecido? O instinto de bandido não nasceu nele, mas o meio em que ele nasceu e os fatos que ele presenciou, desencadearam no seu ingresso neste mundo. Enquanto as crianças residentes nas favelas não tiverem mais oportunidades, isto irá acontecer. A probabilidade é esta.

Uma ótima terça-feira a todos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário